quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Beijos Urbanos

Vi seus olhos brilhantes
Eu vi!
Seu andar saltitante traz embutido uma pena
Balança pedindo pra chuva cair
Dedos nos dedos e eu posso voar
Um beijo apaixonado
Noite azul
Um beijo azul
E seus olhos brilharam
Entre paredes cinzas
Beijos Urbanos
Seus olhos brilharam para mim
O paraiso é aqui
Caminhar dançante na nossa chuva imaginária
Olhos de luz
Abraços bem dados
Falta de ar
Beijos de amor

sábado, 18 de dezembro de 2010

Cerveja e Poesia!

Raios dourados do Sol transpassam a cerveja dourada
Cerveja cor de Sol, fim de tarde, calor
Sua pele dourada pelo Sol canaliza meu querer
Sua pela branca branqueia meu penar
Lágrima branca percorrer a face rosa e deságua em meu peito
Onde sensações novas alvoroçam
Lágrima torna o brilho do seu olhar cristal-dourado
Presença que faz minha tarde dourada
Minha alma tem calor, arde em chamas
Nunca vi borboletas no estômago
Mas agora sinto chamas no peito
Terreno virgem, inexplorado
Sensações inéditas
Tristeza e alegria se confundem
Enroscam-se na paz dourada que ela me proporciona
Observo sua pela branca-rosa-dourada
O Sol sorri ao ver minha paz dourada
Calor colori o fim de tarde, colori a cerveja dourada
Meu peito chora seu choro
A emoção censurada é azul-dourado
Sou alegria simplesmente por estar ao seu lado

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Pedra


Rui - BOM DIA SOL diz:
*mell mell mell
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*bom diaa
Rui - BOM DIA SOL diz:
*bomm rs
Rui - BOM DIA SOL diz:
*esse coração de pedra é o seu??
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*simm
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*bonito ele não ?
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*:D
Rui - BOM DIA SOL diz:
*lindooooooo
como vc conseguiu??
ensina pra mim rs
Rui - BOM DIA SOL diz:
*qual a formula?
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*rsrs
Rui - BOM DIA SOL diz:
*dizzzzzzzzzzz
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*chore um oceano inteiro, até esvaziar, após isso desacredite da humanidade, desconfie até de si
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*após isso
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*jogue fora
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*tds as ilusões que porventura
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*tinhas
Mellissa  Adeus aos : pseudo-amores, pseudo-amizades, esses pseudo-sentimentos diz:
*e eis q ganhrás um lindo s2
Rui - BOM DIA SOL diz:
*anotado

"Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor"

 Chico Buarque de Hollanda

Espelho da alma

espelho da alma
ao ver o meu reflexo
estampado no espelho
sinto falta do que outrora
ali eu enxerguei
e agora, o que reflete ?
senão olhos tristes e vazios
a espera , mas de que ?
não sei definir
o que a esperança
ainda teima em perseguir
e que veloz como o tempo
escapa
não há mais rima e poesia
não há mais nada
senão um s2 que bate
e incapaz de faze-lo parar
sobrevivo
sobre-vivo
apenas um verbo
cuja ação
traz mais dores
que a renúncia
de viver
 ( Mellissa Victória)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Oração ao Sol



Grande espírito,
Cujo voz ouço nos ventos
E cujo alento da vida  a todo mundo, ouça-me!
Sou pequeno e fraco,
Necessito de sua força e sabedoria.
Deixa-me andar em beleza
E faça com que meus olhos possam sempre
contemplar o vermelho e o púrpura do pôr-do-sol.
Faz com que minhas mãos respeitem tudo o que fizeste
E que meus ouvidos sejam aguçados para ouvir a tua voz.
Faz-me sábio para que eu possa compreender
as coisas que ensinaste ao meu povo.
Deixa-me aprender as lições que
escondeste em cada folha, em cada rocha.
Busco força não para ser maior que meu irmão
mas para lutar contra meu maior inimigo - eu mesmo.
Faz-me sempre pronto para chegar a ti com as mãos limpas e o olhar firme,
a fim de que, quando a vida apagar, como se apaga o poente, 
Meu espírito possa estar contigo sem se envergonhar.


Povo Tupinambá - Séc. XVI

domingo, 24 de outubro de 2010

Lamentos

   Ele apenas espera pelo fim.
  De todas as alegrias e tristezas, glórias e tragédias, nada restará; de todas ideologias, bandeiras, religiões, políticas, não sobrará, nem pó. O tempo traga tudo e cada um de nós vira apenas uma lembrança na memória da natureza que guarda tudo; a maior biblioteca do mundo.
  Ele apenas vive sua vidinha, batalha seus planos, aproveita seus pequenos prazeres; até sonha com velhas ideologias, mesmo sabendo que nada restará.
  Pouco faz por si, pouco trabalha no que realmente importa, cotidianamente perde pra sua preguiça, sua mente inquieta lhe aplica terriveis golpes; pouco lapida sua alma incrostada de tantos desejos, de tantos males; pouco faz pra luz brilhar em si.
  Sua alma cobra, os deuses cobravam, mandam sinais, enviam ultimatos; ele fica angustiado, confuso, apreensivo; vê a grande tragédia se aproximar e pouca faz, não consegue se libertar da sua própria tragédia pessoal. De vontade fraca, imerso nos problemas cotidianos, pouco faz.
  Fica perdido entre tantos avisos, desejos, sinais, vontades, intuição, amor, cobranças e medos.
  Ele quer a paz completa, mas a vida é um caos, sua mente é um caos, sua alma é um caos, a terra é um caos.
  Ele vê tudo acontecer e pouco consegue fazer. Ora com a fé que tem, pede ajuda, mas sua força é fraca, as orações não chegam como deveriam; sua percepção é turva e não consegue compreender a ajuda que chega.
  Sua alma lamenta, chora e ele pouco faz.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

No encanto da flauta

Tenho um brilho bom nos olhos
Um brilho novo
Não mais um brilho de fogo, vermelho da paixão
Mas um brilho de paz, azul do amor celestial
Sua alma toca uma flauta transversal
Sem saber me hipnotiza
Sou uma serpente numa dança indiana
Presa nas doces melodias
Que flutuam e tocam o infinito
Vejo flores em qualquer canto, qualquer concreto
Azul no céu cinza
Busco na lembrança
Seu riso espontâneo
Seu piscar de olho encantador
Sua voz que veste meu ouvido como uma luva
Sua face séria
Nessas lembraças ganho força pra um dia cansado
Calor pra uma tarde ensolarada e fria de setembro
Essa é minha medicina alternativa
Minha vitamina diária
Imagino, penso, viajo, fantasio
Nas flores que ainda não mandei
Nas cartas e poemas que não escrevi
Nas declarações que não fiz
Em qual presente ainda vou dar
Talvez um par de brincos, um livro, um cd
Ou qualquer coisa excêntrica
Um artefato gracioso do oriente que toque sua alma
Um sino
Sua presença é um pedacinho do céu
Onde posso repousar
Tirar curtas férias do tormento do mundo
Experimentar minutos de paz

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Por entre caminhos tortos

a carne é fraca, o coração mais ainda
passos apressados e a vida quase perdida
é no final dos tempos que encontramos contratempo
jogos corridos praticados em qualquer campo
no apego dos desejos é que vamos errando
pecados por dentro acelaradamente queimando
qual dos sete males você mais recrimina
pratica internamente e externamente abomina?
onde o desejo desafina com a vontade
em qual de suas faces encontramos a verdade?
acorrentados, iludidos no que se chama modernidade
confundimos capricho com simples necessidade
turbilhões de quereres nos tiram toda clareza
perdemos o que poderia vir a ser uma fortaleza
e vamos levando a vida pra frente
até que a morte nos brinde de repente
nada resta além das virtudes, dos tesouros da alma
além dos jogos deste mundo é o que pode propocionar verdadeira calma

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ao modo antigo

sou uma menina ao modo antigo, daquelas românticas
que escrevem sonhos no caderno e segredos em cartas
que acreditam em amores verdadeiros e sinceros
daquelas que esperam no porto o marinheiro fiel
que fazem crochê para alguém especial
que preparam doces com carinho
que sorriem felizes debruçadas na janela
sou do tipo raro, do tipo passado
daquelas que acreditam em filhos e netos, em família feliz
que usam vestidos e tranças
e correm na poeira ao encontro de alguém
daquelas que olham nos olhos com esperança
e paro chão com vergonha
que se derretem por um simples agrado
uma atenção, um sorriso especial
que fazem nas nuvens sua morada especial
à espera de um encontro apaixonante
que fazem pedidos à lua,  à estrelas, à fadas
que cantam na beira do lago seus desejos sinceros
daquelas que acreditam nas pessoas, nas palavras
sou quase extinta
sou daquelas que para alguns é lenda
que só existe no cinema

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sou Uma Criança, Não Entendo Nada

Antigamente quando eu me excedia
Ou fazia alguma coisa errada
Naturalmente minha mãe dizia:
"Ele é uma criança, não entende nada"...
Por dentro eu ria
Satisfeito e mudo
Eu era um homem
E entendia tudo...
Hoje só com meus problemas
Rezo muito, mas eu não me iludo
Sempre me dizem quando fico sério:
"Ele é um homem e entende tudo"...
Por dentro com
A alma atarantada
Sou uma criança
Não entendo nada...
(Erasmo Carlos)

http://www.youtube.com/watch?v=zALTZ3388Fg&feature=related

sábado, 31 de julho de 2010

Vitrola

    Perdia um bom tempo entrando de cidade em cidade, de parada em parada. Em cada rodoviária, rostos parecidos, histórias parecidas. A senhora conversadeira, que estava ao seu lado, explicou que no passado as rodoviárias eram ponto de encontro nas cidades pequenas, as pessoas se arrumavam para nela se encontrarem, ver quem chegava e partia, conversar, paquerar,etc. Por isso as rodoviárias velhas eram construidas no centro das cidades, já as mais novas ficam na beirada das cidades, mais próximas das rodovias - com o tempo ficou cafona esse tipo de diversão, e as paradas próximas das rodovias facilitavam a vida e todo mundo. Ele não reclamava, gostava de ver todas aquelas ruas iguais, cidades iguais, mas cada uma com sua peculiaridade. Além do mais, adorava andar de ônibus, ficar horas olhando pela janela, os pensamentos se perdiam no horizonte, ou simplesmente, observava, com a mente vazia, como um arqueiro fixando a atenção no alvo. Viajar de ônibus cansa. Mal comparando, era uma masoquista.
    Enfim, era a sua vez. Despediu-se da senhora, pegou sua mochila no bagageiro, agradeceu ao motorista e acenou quando o ônibus partiu. Agora ele era mais um dos rostos parecidos, com uma história igual a de quase todo mundo, com elementos particulares. Era mais um rosto sendo observado por alguém - pela senhora da barraca, pelo homem da banca, pelo guarda. Cada qual com uma visão diferente daquele rosto estranho, ou indiferente à sua presença.
       Com um papel na mão, pediu informação. Seguiu com um sorriso na face. Adorava conhecer lugares novos. Olhava com atenção cada detalhe daquele lugar. A velha igreja lhe encheu os olhos. Ao entrar na rua indicada, pareceu estar sonhando. Por um momento duvidou estar no plano físico. Aquela rua longa, deserta, as copas das árvores cobriam todo o caminho, apenas alguns raios solares conseguiam penetrar, formando uma visão mágica; aquelas casas antigas, o vento passando no silêncio, só quebrado pelo som dos pássaros, os paralelepípedos e a calçada enfeitados com as folhas caidas. Era lindo demais. Um paz incrivel abraçou seu espírito, uma felicidade superior adentrou cada canto do seu corpo, da sua alma.
      A felicidade está no ser e não no ter. É uma sabedoria magnífica que o mundo perdeu. Perceber que a felicidade vem de dentro e não de fora, compreender o que há de mais valioso. O mundo como está não merece existir por muito mais tempo, a maldade já tomou os quatro cantos, os valores eternos foram invertidos, todos vivemos pelos sete pecados e não pelas sete virtudes. É preciso renovar, começar de novo.
     Andou lentamente, observando cada passo, escutando cada pássaro, sentindo o cheio das árvores. Cada casa simples era de uma beleza enorme. Alguns crianças sairam correndo de uma casa. Umas foram jogar bola, outras bolinha de gude, algumas meninas com bonecas na mão; brincavam de correr, de pular elástico, de amarelinha e muitas outras brincadeiras. Hoje as crianças brincam de matar nos vídeos game, de fazer sexo no computador.
      Chegou na casa. Toda branca com detalhes azuis, o muro baixo, muitas plantas no quintal e na varanda, uma cadeira de balanço e em cima da porta uma imagem do nosso senhor Jesus Cristo.
       Bateu palma. Apareceu uma mulher, com uma felicidade que transbordava pela aura, que tentava disfarçar com um sorriso contido. A ansiedade que precedeu o estouro de alegria tinha sido muita, e foi por entre as plantas, com seu vestido longo, cabelos trançados e mãos suadas, mãos que entregaram tudo o que ela estava sentindo. Esperou um bom tempo por aquele dia, preparou tudo com muito carinho. Às vezes os senhores do destino não facilitam o reencontro de velhas almas, mas elas persistem, por magnetismo, por karma e darma.
     Um abraço forte seguido de olhos brilhantes. Ela segurou em sua mão e foram pelo quintal, com aquelas conversas previsiveis: tudo bem?, como foi a viagem? etc.
     Um gato guardava a entrada da casa. Os cachorros protegem no físico, os gatos que protegem no astral.
     A casa era extremamente aconchegante. Os quadros de paisagens, os jarros de flores, a estante com uma tv em preto em branco - que só servia mesmo de enfeite, tinha uma colorida no quarto -, uma imagem de Santo Antônio, as cortinas brancas balançando com o vento, o sol mostrando um pouco da poeira, a mesa baixa no meio da sala, uma cortina do tipo "cigana" que dava pros outros cômodos e o mais importante de tudo: a vitrola.
    Tinham ido àquela casa pra ouvir música na vitrola, depois iriam acampar.
     Ouvir música na vitrola é diferente, tem um clima, um ar especial, como se o ruido transportasse a consciência pra algum lugar esquecido no passado, como se vivessem tudo novamente. O ruido toca na alma e tudo em volta fica mais belo. Levaram alguns discos que herdaram de seus pais e outros que conseguiram emprestado: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Novos Baianos, Alceu Valença, Cazuza, Zé Ramalho, entre outros. Ele sentou no sofá, ela colocou um disco do Cartola e foi fazer chá. Coisa boa é ouvir Cartola numa tarde de domingo, conversar sobre coisas da vida, tomar chá e ver o tempo passar. Ela veio com chá e bolo. Falaram sobre muitos assuntos, coisas sérias, coisas bestas, riram, fizeram expressãos de lamentaçãos, expressãos de esperanças, ficaram mudos, trocaram todo tipo de ideia. Uma frase do Raul Seixas descreve bem as conversas que tiveram: "dois problemas se misturam, a verdade do universo e a prestação que vai vencer".
     O tempo passou, os raios solares sumiram, a vela era a única coisa a iluminar a sala. Todas as coisas precisam ter seu equilíbrio. A vitrola tornou a tarde muito boa, mas agora era hora de ficar em silêncio. A moça ligou um abajur que tinha no canto da sala, uma luz amarela tomou toda a sala, parecia cena de cinema. Os sinos de vento, conforme o vento batia, ecoavam seus sons por toda a casa. O chá deu lugar ao vinho. Beberam um pouco, ouviram o silêncio misturado com os sinos de vento, que pareciam trazer mistérios da noite. O silêncio diz muita coisa pra quem sabe ouvir.
    Trocaram olhares profundos, que dizem muito mais que palavras.
    Já estava na hora. Precisavam pegar o último ônibus. Seria uma viagem longa, de uma semana longa e inesquecível. Momentos ímpares estavam se configurando em suas vidas. Momentos que começaram numa tarde de vitrola e chá, numa noite de silêncio e vinho, em momentos de calma.

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Aqui a música
http://www.youtube.com/watch?v=HN0_mN7fWa8
Cartola - Preciso me encontrar
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Aqui um poema sobre o texto

Uma tarde de diferente harmonia
Daqueles momentos únicos na vida
Onde os anjos têm a bela mania
De criar cena que merece ser cantada

Sons do sino de vento
Sons da velha vitrola
Luz num profundo contemplamento
Uma nostalgia que não se controla

Bolo, chá, vinho
Plantas, vento, gato
Um abajur que lá do seu cantinho
Faz do lar um belíssimo retrato

Daqueles que se conta pras futuras gerações
Narrando cidades, ruas, casas encantadas
De como um vinil costura corações
Premia a dedicação de moças prendadas

sábado, 17 de julho de 2010

Lembranças / Irmãs

Lembranças

A memória - mesmo construida - é essencial a cada povo
Lembraças são o que levamos de tempos supostamente floridos
Guardamos num pote mental de onde muitos vezes tiramos força
De estradas tortuosas extraimos belas lembraças

Eram tardes de brincadeiras infantis
"era assim todo dias de tarde
a descoberta da amizade"
Sorrisos tolos em inúmeras bobeiras

Pontualmente toda sexta
A lua sempre nos cobrava
Era urgente a reunião da nossa tribo
Sempre no mesmo lugar, só por estar

Dizia sempre: você tem a barba mas o profeta sou eu
Pregando uma peça na gente, nao previu o que viria

E noites casuais de sábados e domingos
Nas noites altas, segredos que só são contados assim
Que apenas cachorros também podiam ouvir
Fora eles, só a tribo é leal

Em cada jogo, cada piada, cada alegria
Era alegria
Assim a gente levou a vida
Até a vida nos separar

Cada qual pra seu canto
Seguindo sua maré
Encontros corriqueiros e boas conversas
Boas lembraças
Até a vida nos separar

Vai descendo com seu brincando
Com seu instrumento nas costas
É alto e veloz
A base do morro e a alavanca pra outros voos

Vai tocar em outro lugar
Vai sorrir em outro lugar
Vai andar em outro lugar

"qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar"

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Irmãs

Poema das irmãs
Vibração da energia que emana
Poderosos, fortes imãs
A fortaleza da Ananda

Na dança de muito tempo
Muita roupa, muito estilo
Até mesmo o contratempo
Fez o amor seu pupilo

Princesas e escravas
A fragilidade de Alice
Memória tudo gravas
Festa animada e chatisse

Amizade que até falha
Tropeça mas não abala
Não é fogo de palha
Tá escrito na cabala

E assim que tem que ser
Findou-se o tempo de errar
Pra que a alma possa vencer
Forjado está o tempo de amar

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Arrisco seus cabelos verdes

Ela veio do norte, sem pretensões e ambições.
A vida não é mais que uma festa multitemática
Em estradas com curiosidades futeis.
De carioca a espanhola, com olhos clichês
Refletidos num copo de vodka,
Numa noite quente de outono;
Mas ela sente frio.

Entre assuntos tão normais,
As novidades que não vimos tv,
Ouvimos o porteiro comentar
E não tardamos a criticar
O assunto popular da vez,
O tira gosto ruim da esquina.

Ela é a dona da louça da vez.
A turma continua a conversar.
Do canto do sofá mesclo
A fumaça do cigarro com seus cabelos verdes,
Imagino uma cena de cinema,
Um beijo de novela russa;
Mas nunca vi novela russa.
Continuo a viajar.

Ela joga um prato na parede,
Um protesto contra o frio.
Todos acham muito rock n roll,
Mas não param a jogatina.
Pego o violão com as cordas enfumaçadas,
Arrisco cantar seus cabelos verdes.
De carioca a espanhola.
De pele escura.
Arrisco seus cabelos verdes.

sábado, 12 de junho de 2010

Simples coincidências / Devaneios no vidro / Perfeição de um segundo

Simples coincidências.

Calma!
É só minha cara de susto.
Tire de tua face a expressão de espanto.
É só a surpresa que não pude disfarçar.
São só simples coincidências!
Por ver você aqui,
Ao pensar, você me aparece, assim,
Sem avisar, sem alerta, sem anúncio.
Por você não ser clarevidente, diminuiu minha saia-justa,
Minha vergonha; segredo pouco bem guardado.
Não repare minha fulga.
Vou ali, em lugar nenhum, fazer nada,
Mas aqui não dá pra ficar, preciso respirar,
me recompor.
São só simples coincidências.
Pensamentos e ondas.
Simples coincidências.
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Devaneios no vidro.

No vidro a imagem refletida da flor,
Do verde em valsa lenta, harmônica.
Na cadência do sopro do vento.
Entre nós, por um segundo, um corpo de belos contornos,
Num andar deselegante e terno, que se confundem.
Tronco marrom, entre flores lilás e imagens refletidas.
Entre passagem de andares deselegantes e verdes dançantes.
Devaneios

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Perfeição de um segundo.

O tempo parou por um segundo.
Toda a eternidade contida num segundo.
Pássaros e ventos silenciaram,
Animais e pássaros simplesmente obeservaram.
Justa e felizmente, carros e aviões mudos.
O vazio do som tomou todos os cantos;
na essência do vazio, mistérios universais.
Pausa, contemplação, compreensão e paz.
Por um segundo a perfeição.
E fim.
Voltam os barulhos, as picadas, a imperfeição;
O estado imperfeito de sempre.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Doces devaneios [533.234.292.376] / O Psicopata

Doces devaneios [533.234.292.376]

São amargos doces devaneios
Doces como mel, cheirosos como a flor
Mel envenenado, flor artificial
Cheios de vida e cores
Vida podre, cores que não podem captar
São outras vibrações

Doces devaneios
Puros como água de língua negra
Verdadeiros quanto um holograma
Reais igual a democracia
Chegam a convencer

Amargos devaneios
Insistem em mascarar a realidade
Afogam em ilusões as mentes fracas
A mente mente oferecendo leves devaneios
E mergulhamos em trevas
Decoradas com luz, vida, amor, flores e felicidades
Doces devaneios
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O Psicopata

Alguma coisa meio humana
Genial para alguns
Mostro pra maioria
Algo intrigante

Frio, tão frio que não cabe comparar com os pólos do planeta
Insensível, mais insensível do que um pai sem amor ao filho
Basta olhar em seus olhos e você não verá
Finge tão bem que merece todos os oscars do século passado
Amor, ódio, compaixão,...
Só o prazer lhe cabe

Anda por becos escuros, por avenidas iluminadas
Amigo pra todas as horas, bom conselheiro
Com sábias palavras
Sempre bem visto na sociedade

Manipulador, sede de prazer e de poder
Nada importa, passa por cima de tudo
Cruel, calculista

O que será está criatura?

Alguns entram pra história como grandes homens, bons e sábios

sexta-feira, 19 de março de 2010

Emuê - O tombo.

Em determinado ponto de sua jornada, Emuê se encontrava caminhando numa estrada cercada por florestas. Vinha pensando em muitas coisas, no passado e no futuro, não mantinha a atenção no que estava à sua volta. Estava completamente distraído. As pessoas vivem sonhando, vivem com a cabeça em outro lugar, passam o tempo todo projetando sonhos, ilusões e problemas na mente, esquecem de viver o presente. Caso Emuê estivesse presente, não teria caído no buraco.
Foi um tombo pequeno, mas suficiente pra machucar a perna e cabeça. Ficou desacordado por alguns segundos, recobrou a consciência e se perguntou onde estava. Mal lembrou de como tinha chegado ali.
Ouviu passos. Viu o rosto de uma senhora, aparentando uns 65 anos. Ela se abaixou e estendeu a mão. Emuê pensou:

- Ela é louca? Não vai ter força pra me tirar daqui.

Mesmo assim ele segurou em suas mãos. Num único impulso a senhora tirou Emuê do buraco, com muita facilidade, sem demonstrar esforço. Uma senhora daquela não podia ter tanta força. Questionou-se se não estava sonhado, chegou a beliscar-se pra ter certeza.

- Muito obrigado, senhora. – disse Emuê
- De nada, meu filho – respondeu a senhora.
- Como a senhora conseguiu me puxar com tanta força?
- Boa alimentação e exercício físico moderado – respondeu a senhora rindo.

Emuê olhou a senhora com muita curiosidade, um certo espanto. Enquanto ele a olhava admirado, ela perguntou:

- Como foi cair neste buraco?
- Eu estava andando distraído, não vi o buraco.
- Se estivesse andando com a atenção que me olha agora, se estive consciente, não teria caído.
- Tem razão.
-Mas este é um grave problema do seu mundo, as pessoas sonham demais, vivem como sonâmbulas. Às vezes visito seu mundo. Vi algumas notícias da sua terra, de pais que esqueceram os filhos em seus veículos quente e sem ar, e os filhos morreram. Isso acontece porque dormem, dormem acordados. Se estivessem despertos, conscientes, com a atenção que você tem agora, tais tragédias não teriam acontecido.
- A senhora consegue passar sempre pro meu mundo! Como consegue?
- Eu tenho as chaves.
- Quais chaves?
- Quem sabe um dia você não descubra. Mas me diga, com o que estava distraído?
- Estava pensando em minha mãe. Vi que ela está muito triste porque um dos meus primos morreu. Eu não o conhecia, mas mamãe cuidou dele quando criança. Queria voltar por uns dias pra poder estar com ela, mas não posso e também não sei como voltar.
- Sim, você não pode voltar, por enquanto.

A senhora olhou Emuê por alguns instantes, ele tinha voltado a sonhar, voltar a por a mente em sua cidade natal, pensou nas mil coisas que poderia fazer se estivesse lá.

- Como seu primo morreu?
- Ele se matou, estava com depressão, já fazia um bom tempo. Tomava muitos remédios pra se curar, mas não adiantou.
- A tal da depressão, mais um grande problema do seu mundo. Claro que não podem acabar com essa doença com remédios. A causa dessa doença é no espírito e lá deve ser tratada.
- Como se cura a depressão sem remédio?
- Meu rapaz, preste atenção no que vou lhe dizer, vai ser útil durante a sua jornada. Todos nós somos cheios de desejos e vontades, desejamos todo tipo de coisa, mas conseguimos muito pouco dessas coisas. Algumas pessoas não conseguem reagir bem com esses desejos não realizados. Muitos querem ter dinheiro, fama, poder, mulheres e todo tipo de coisa. Quando não conseguem ser como queriam, entra num estado de frustração e tristeza. Toda depressão surge de uma frustração. Então achamos que o mundo é ruim, que somos injustiçados, que merecíamos mais do que somos e temos. Um desejo de não querer viver começa a tomar a mente, vontade de morrer. Até que um dia perdemos completamente a consciência e nos matamos. Assim é processo. A cura está no trabalho psicológico, no auto-conhecimento, na compreensão do mundo. Escute, caminhante. Entenda que tudo passa, durante a sua caminhada encontrará muitas coisas que te fascinarão, mas não se apegue a elas, pois mesmo que você as consigas, elas passarão; o ideal é não se fascinar com as coisas, a fascinação trás a inconsciência.
- Quer dizer que não devo lutar pelas coisas, nem amar as pessoas?
- Não é isso, seu tolo. Precisamos amar toda a humanidade, todos os seres e lutar pelas coisas que achamos certas e necessárias. O segredo estar em não se apegar, saber conviver com as vitórias e com as derrotas, saber que tudo chega e tudo vai, saber compreender a vida.
- Parece fazer sentido.

Emuê refletiu profundamente naquelas palavras, como se estivesse em estado de meditação. Foi interrompido mais uma vez pela senhora.

- Venha comigo. Vamos cuidar desses ferimentos, você precisa descansar.
- Por que está me ajudando?
- Porque é preciso, é minha função nesta jornada, e porque um amigo me pediu que tomasse conta de você por um tempo.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Emuê

 
   Esta é uma curta passagem da longa jornada de Emuê.


   Emuê é meio homem, meio pássaro, meio animal, meio peixe, meio planta, meio duende, meio fada-macho, meio matéria, meio energia, meio ar, terra, água e fogo, meio eu e meio você. Na verdade, não sei ao certo o que ele é, mas imagino um pouco disso tudo aí, inclusive, você.
   Aqui, tudo gira em torno dos dois copos que foram oferecidos a Emuê – ou que servem de desculpa pra história -: um copo com suco de cacto e outro com vinho e mel.  Por vezes, erramos tentando acertar e acertamos querendo errar. Emuê tomou o copo com suco de cacto e dispensou o outro que, embora não oferecido explicitamente, ele sabia que podia tomar. Se a minha má matemática não me derrubar, quatro eram as possibilidades: nada tomar, tomar o suco de cacto, tomar o vinho com mel ou tomar ambos.
   Quem pos os copos foi Helena... não! Nós a chamaremos de Maria. Ou a chamaremos de Isis?!? São muitos nomes e todos querem dizer a mesma coisa, é que não costumo usar nomes originais. Pois bem! Meus pensamentos fizeram uma votação – há suspeita de compra de voto -, Maria foi o nome escolhido.
  Quem pos os copos foi Maria, a bruxa Maria, ela colocou o copo com suco de cacto em cima da mesa e disse:
  - Tome, Emuê, lhe fará bem.
  Emuê, errante caminhante, tinha sede, não gostava de cacto, mas como não queria provar o vinho com mel, por achar que lhe faria mal, tomou o suco de cacto.
  Enquanto Emuê bebia, Maria dançava. Colocou uma bela música hipnotisante, uma roupa atraente e dançou, dançou e cantou. Todos os seus movimentos, cantos e olhares, apontavam pro copo de vinho com mel que estava no chão, ao seu lado. Ele observou atentamente a cada movimento, cada olhar, cada detalhe no corpo da bruxa; era linda, muito linda, sua beleza escondia seus cabelos de cobra e sua mente terrível, embora os desejos fossem sinceros.
  Talvez, tomar o vinho com mel de Maria fosse a solução pra fugir do fogo que o perseguia; às vezes um mal menor cura um mal maior.
   Antes de estar na casa de Maria, Emuê esteve em um condado, onde encontrou muitas bruxas. Apaixonadas por ele prepararam um grande banquete: frutas, carnes, bebidas, etc. Tinha de tudo. Queriam agradar Emuê, queriam que ele morasse ali, mas emuê não queria. Com muita insistência, aceitou ficar por algumas noites, à beira de uma fogueira. Mas elas queriam mais, bruxas querem sempre mais, queriam consumir Emuê em seus fogos.
   Fizeram uma grande conjuração, um grande ritual, invocaram um demônio, dele pediram um grande poder de fogo e lançaram contra Emuê. Ele correu desesperado, aquele fogo, aquela fumaça, eram sufocantes. Alguns animais ajudaram na fuga, como pena tiveram parte da floresta queimada. As bruxas enviaram alguns soldados, mulheres guerreiras, pra capturar Emuê, que com muita luta conseguiu esvair-se, e chegou à montanha, num vilarejo, onde foi pedir abrigo na casa da Bruxa Maria. Na fuga, entre galhos queimados, lanças e flechas, Emuê pisou e matou uma formiga e um caracol, pondo fim em suas buscas e numa fábula que contaria uma história: “A formiga sonhadora e caracol corredor”. O livro jamais virá a ser escrito. Que o conto de emuê valha a pena.
   As bruxas foram gananciosas, podiam tê-lo por algumas noites, mas quiseram para todo o sempre; apenas o absoluto vive para todo o sempre. Ele beberia e comeria por uns dias no condado, antes de seguir viagem, mas agora estava lá, no vilarejo, na casa de Maria, sedento e faminto.
  Enquanto Maria dançava, Emuê bebia aquele suco ruim e pensava; foi difícil pensar com a bruxa e seus movimentos. Poderia tomar o vinho com mel, o néctar maravilhoso das bruxas, embriagar-se em sua música, navegar em seus desejos, no seu olhar venenoso, fazer dos seus abraços nuvens serenas num mar de tormentas; merecido presente depois de tanto sufoco que passou. E, tocado pela bruxa do vilarejo, seria rejeitado pelas bruxas do condado, o perigo seria, então, não mais fugir de seus fogos, mas escapar de suas fúrias, o que seria mais perigoso, mas menos angustiante. Maria poderia ter posto um feitiço no vinho com mel, ao invés de ficar preso no condado, ficaria preso no vilarejo, seria o fim da jornada. O feitiço poderia estar no cacto que bebia, que era de péssimo gosto, mas bebia em agradecimento a boa recepção que teve; as bruxas são cheias de artimanhas. Ele tinha fome, sabia que com o vinho com mel viria um grande pedaço de carne assada, tinha comido bem no condado, mas a perseguição o deixou com muita fome.
   Emuê resistiu bem, apreciou os encantos da bruxa, mais não caiu em sua hipnose. Tentou distrair-se contando à bruxa os caminhos de sua aventura, seus desejos, idéias e objetivos. Maria também contou suas aventuras, desejos, idéias e objetivos. Emuê não tirava os olhos do vinho com mel, bebia o cacto como remédio, como forma de esquecer.
   Vendo que Emuê não cederia aos seus encantos, Maria tentou uma outra estratégia. Disse a Emuê que ele precisava ir, pois não queria enfrentar as fúrias das bruxas do condado, este era um fardo só dele, além do mais, tinha seus afazeres, feitiços pra preparar, a horta pra cuidar e precisa voar em sua vassoura. Com toda delicadeza, levantou-se, abriu a porta e disse:
- Vá, Emuê, já está na hora, já descansou, já matou a cede, é hora de ir.
Mas o corpo e os olhos da bruxa diziam:
- O que espera? Beba o vinho com mel, beba tudo, saboreie cada gota, basta você pegar.
   Emuê não queria ir embora, olhava atentamente os olhos da bruxa e o copo com vinho e mel, se recusou a ir embora.
   Um sino tocou, era o sino da igrejinha do vilarejo, e sempre que o sino tocava algumas bruxas do condado visitavam o vilarejo, iam tratar de diversos assuntos. Dessa vez Maria falou sério, mandou Emuê ir embora, ordenou que saísse pela porta dos fundos. Não queria problemas com as bruxas do condado, até porque, Emuê não teria tempo de tomar do o copo de vinho com mel. Ele ainda ouviu o som das bruxas do condado enquanto escapava pelos fundos.
    No caminho de volta à sua jornada, encontrou algumas bruxas do condado. Além do fogo, teve que enfrentar suas fúrias, agora sem ajuda dos animais, talvez dos Deuses. Livrou-se rapidamente das fúrias, mas o fogo continuou a persegui-lo. E assim teve que continuar sua jornada, enfrentando os grandes desafios e fugindo do fogo que o perseguia.

   Se tivesse provado o néctar das bruxas, mesmo com todo o perigo, estaria livre o fogo das bruxas do condado. Provou o suco ruim de cacto e negou o néctar de Maria; mais um entre tantos possíveis erros durante sua jornada.
   A vida é feita de escolhas, sempre há uma escolha, sempre há um caminho alternativo, e nunca sabemos aonde vamos chegar. As escolhas de Emuê o levaram até ali, a escolha pelo suco de cacto o levará a um certo lugar, que ele não sabe, eu não sei e você também não sabe.
   Talvez o néctar o transformasse numa águia, num tigre, num golfinho; talvez o ajudasse bastante em sua jornada. Não sabemos como Maria preparou o néctar das bruxas, e qual seria o resultado dela.


   Está é uma curta passagem da longa jornada de Emuê, que ainda não fiz, não pensei, mas que existe em algum lugar dentro de mim, dentro do universo, que talvez eu descubra um dia e passe prum livro, ou que ficará eternamente oculta.

quinta-feira, 4 de março de 2010

O rapaz da camisa listrada.

 



   Entre os vários empecilhos à paixão estão a família, o status, a classe social, a cor, a distância, a religião, as idéias, a idade, os amigos, os inimigos e a roupa.

   Ele a encontrou num dia de chuva, embaixo de uma lona, num forró, esperando a chuva passar. Rapaz atirado, sem vergonha e mulherengo; com sua inseparável bicicleta e dois copos de vinho no corpo. Menina tímida, solitária, bem arrumada. Ele puxou assunto e a conversa fluiu. Ele falava muito e ela ouvia bastante, adorou os assuntos loucos daquele rapaz louco naquele dia louco. Era uma quebra de rotina que quase todos esperam, aquele rapaz era diferente de tudo que ela conhecia. Bingo, “namoro”.
   Marcaram outro encontro e se encontraram várias vezes, até que a menina notou uma coisa: ele só usava camisas listradas.
   Rapaz diferente, com idéias diferentes, algumas eram geniais, interessantes, reflexivas, mas outros eram... um tanto... loucas, de verdade.
  Certo dia colocou na cabeça que queria ter uma marca, algo que o lembrasse, e resolve usar apenas camisas listradas. Pensou em usar roupas indianas, mas eram um tanto caras. Seus amigos lhe chamaram de “O rapaz da camisa listrada”. Pois bem, conseguiu o que queria, agora tinha uma marca; claro, vieram as brincadeiras. Deu sorte por não ser chamado de emo, mas as combinações geraram apelidos: Preto com marrom – homem abelha, Preto com branco – irmão metralha, etc. Não ligava pras brincadeiras, era do tipo: falem bem ou falem mal, mas falem de mim.
   A menina perguntou se ele tinha feito pacto, promessa ou algo do tipo, ele explicou o motivo, ela não entendeu e disse que era pra ele parar de usar listrado. No encontrou seguinte ela mandou ele escolher, ou usava listrado ou terminava o namoro, ele não levou a sério. No outro encontro ele apareceu novamente com camisa listrada, ela ficou furiosa, só então ele percebeu que ela falava sério. Ela deu o ultimato, ele disse que não pararia de usar, ela terminou o namoro.
  Ela adorava o rapaz, gostava de estar com ele, conversar com ele, mas não suportou aquela esquisitice. Entre tantas esquisitices dele, ela implicou com a menos importante. Teve outros namorados, mas nunca esqueceu o rapaz da camisa listrada.
   Tempos depois encontrou o rapaz por acaso, em cima da sua inseparável bicicleta. Ele vestia uma camisa azul. Ela logo perguntou o porquê ele não estava de listrado, ele disse que enjoou, assim como um dia enjoou de usar preto, e agora usava todo tipo de roupa.
  Seus olhos brilharam ao ver o rapaz, se arrependeu da bobeira que fez, mas já era tarde, não havia mais lugar pros dois, percebeu que perdeu uma grande paixão por conta de um capricho. 

   Às vezes coisas grandes passam por conta de coisas pequenas.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O homem-urso

 



   Então, depois de tanta alegria – para alguns -, depois que os termômetros fingiram 40 graus nas ruas, disfarçando os 50, depois que tantos corpos fortes e bonitos – alguns carregando mente e alma vazias – se queimaram na praia, na piscina ou na laje, depois que os pássaros morrem de sede e os girassóis viraram piões, o verão mostra seu cartão de despedida. O homem-urso – meio homem, meio urso – lamenta o fim da festa. Em pouco mais de uma semana passou do calor intenso ao frio, e isso não fez bem ao homem-urso, levou um choque, a mudança repentina fez mal ao seu corpo e ao seu ânimo. O homem-urso virou urso e hibernou por três dias; sendo homem também, tinha Internet no fundo de sua caverna, manteve contato com o mundo, além de dar uma saidinha no segundo dia pra buscar seu “peixe” semanal, seu principal alimento, seu “peixe espiritual”.
   Todos os outros homens se diziam felizes com o fim do calor, mas o homem-urso não se enganou, percebeu como as ruas ficaram mais vazias, todos os homens – tubarão, cachorro, gavião, etc. – estavam em casa, exceto o homem-formiga, que precisa trabalhar sempre, e o homem-pavão, que com orgulho exibia o que sobrou das suas penas da moda do último inverno; alguns poucos homens se aventuraram pelas ruas, bem poucos.
   No quarto dia o frio recuou, tempo médio e céu cinza, pra ficar mais ou menos equilibrado. O homem-urso sacudiu o frio, alimentou o ânimo, sentiu fogo no espírito e voltou a viver, deixou a hibernação de lado e foi viver. Todos os homens voltaram pra rua, porque ainda resistia o sentimento de verão.

  Falta de inspiração ou de capacidade, ou os dois. Tenho usado sempre o clima pra escrever.
 

Recebi mais um selo, este é duplo - recebi o mesmo de duas pessoas -. Vou abedecer só a metada da regra, rs.
7 coisas que gostos:
Secos e Molhados
Raul Seixas
Darma Lovers
Chico Buarque
Cordel do Fogo Encantado
Zè Ramalho
Ventania

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O sino





   Meu presente pra ela: Um Sino. Sim, um sino. Pode parecer estranho, mas é o que mais sentido fez pra mim. .
   Pensei em dar uma flor. Ela poderia colocar a flor no cabelo, se olhar no espelho e iluminar a rua com a energia irradiante da sua alegria. Talvez, colocasse a flor ao lado da TV, assim não se perderia com tantas bobagens dos programas, a flor prenderia sua atenção; poderia ver e conversar com o elemental da flor, passaria horas escutando relatos do mundo mágico e teria na flor uma amiga a quem contaria todos os segredos. A flor também ficaria bem na cozinha, todos os alimentos seriam de uma grande graciosidade; com aroma especial, fariam leve o corpo de quem deles provasse. Quem sabe colocaria a flor no quarto para ter sonhos floridos, sonhar com campos imensos e leves, com pétalas dançando com o vento um tango de primeira qualidade, montanhas e lagos cristalinos; encontraria fadas indicando o lago especial, nele mergulharia sem se afogar, pois não seria preciso respirar; lá no fundo encontraria uma princesa sereia, de quem se tornaria irmã. A varada de seu lar receberia a flor com muito agrado, a mais nova flor a enfeitar a frente da casa, a encantar os gatos brincando no jardim e as crianças divertidas na rua.
   Mas flor é um presente tão comum, e uma flor causaria confusão. A beleza das duas poderia me confundir, não saberia quem é quem, e eu poderia ficar apaixonado pela flor. Seria estranho, um homem apaixonado por uma flor; a moça ficaria triste e passaria a odiar todas as flores, o mundo ficaria menos encantado. A flor poderia se tornar a atenção da casa, como um bebê recém-nascido, a moça seria a irmãzinha ciumenta, uma pequena desarmonia desnecessária. Flores morrem logo, a moça ficaria muito triste em perder seu presente maravilhoso. Pior seria se encantar tanto com a flor e se esquecer de mim, seria trágico.
   Pensei em dar bombons. Ela comeria imaginando a doçura de nossos beijos, a doçura de um passeio em um museu, a doçura de brincadeiras infantis e tantas outras doçuras. Dividiria os bombons com as amigas e conversariam coisas de mulheres, uma conversa animada. Imaginaria viver em uma casa de chocolate, em um vale místico, com seus filhos aprendendo a viver em comunhão com a natureza. Doce mesmo seria viver em uma praia no nordeste, com o doce forte sol o ano todo.
   Mas uma moça tão doce recebendo mais doce criaria um desequilíbrio, o mundo ficaria mais amargo; seria injusto tornar o mundo mais amargo para favorecer uma moça. E se a moça tivesse uma disfunção estomacal? Seria engraçado contar a história mais tarde em uma roda de amigos, mas seria arriscado. O pior de tudo, eu amo chocolate, eu comeria mais do que ela, não seria nada gentil.
   Pensei em dar um poema. Um punhado de versos sinceros poderia falar diretamente em sua alma e poderia entender que o sentimento é sincero. Moças gostam de poemas. Acharia lindas as palavras bonitas, as comparações e declarações e me acharia um gênio. Mostraria a toda a família o quanto ela é minha musa inspiradora. Colaria na porta do armário, na parede do quarto ou no fichário.
   Mas e se ela não gostasse do poema? Se reparasse nos erros de português e na falta de talento? Poderia entender errado alguma tentativa de um verso mais elaborado, poderia entender o poema como um “Adeus”, seria desastroso.
   Por isso o sino. Todo sino é um pouco religioso e faria o nosso amor sagrado. Alguns orientais usam o sino como forma de comunicação com Deus, como se fosse o telefone, de um lado a alma, do outro, o infinito. O sino pode fazer o místico mudar o estado consciência. No ocidente o sino é o lembrete, faz o homem lembrar que Deus existe – para aqueles que acreditam -. Coisa linda é sino de igreja tocando em cidade pequena, toda aquela gente chegando para missa, tantas senhoras cantando, um som que também encontra a alma. Uma cena magnífica.
   Ela guardaria o sino na mesa do computador, tocaria sempre que sentisse saudade, tocaria antes de sair pra me encontrar e antes de dormir, para sonhar comigo. Tocaria o sino no dia do nosso casamento, levaria o sino na nossa lua de mel, na Grécia. Seria o som do sino a avisar nossos filhos do almoço na mesa. O som que também alertaria nossos netos. O sino se perderia nas futuras gerações, e um de nós, novamente encarnado, acharia o sino em um velho baú de família, ouviria sua história, tocaria e se encantaria. O som tocaria na alma velhas lembranças, mesmo que o intelecto na soubesse.
   O nosso amor poderia não dar certo, mas ela guardaria o sino. No início iria chorar, mas como tudo passa, iria esquecer, e o sino acabaria em um baú. Certo dia, quando estivesse mudando de casa, sua filha acharia o sino e mostraria a ela, a moça tocaria e lembraria de mim, com carinho, e guardaria novamente. Seria o selo da nossa eterna amizade.
   De qualquer forma, o sino acabaria dentro de um baú, nas histórias, os baús são cheios de tesouros, e o nosso maior tesouro é a nossa alma, e a nossa alma é eterna. O sino nos ligaria eternamente. Pare sempre, almas companheiras.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Concurso de Poesias

O dia hoje veio leve, a paz que é bom sentir, aquela paz pós-chuva; o sol brilhou forte dentro de casa, trouxe vida. As nuvens vieram ocupar o lugar que, talvez, não seja delas - no verão, chuva e tempestade vem no fim da tarde, a manhã é do sol.
Entendo as nuvens, conviver com os humanos fez com que ficassem gananciosas; porém, não tiraram a força do sol e mim. Recebi um email avisando que fui selecionado pra final de um concurso de poesias. Não é lá grande coisa, só 17 participantes, mas fiquei feliz. O prêmio: um livro de poesias da coleção LPM Poket
Peço que quem gostar do poema, vote em mim. O endereço do blog pra votar está logo embaixo. O local de votar fica no lado esquerdo superior :)

http://marcelareinhardt.blogspot.com/2010/01/resultado-da-1-fase-do-concurso-de.html

Aqui o poema:

Do tempo
Não existe, mas tenho, curto tempo
Sei que não existe
Mas o rotina não acredita, e toma meu tempo
Deus não disse
O homem fez
Sol lá, Lua cá
Ainda que eu não conheça as leis da física
Entendo a relatividade do tempo
Ao mesmo tempo, curto e rápido
Podemos viajar no tempo
Espaço, astral, pensamento, físico...
Deus permite
Não o Deus tirano
Deus vento, ar, árvore, luz, sol, sentimento,...
É tempo de ter esperança
A velha e surrada esperança
Presente na metade dos poemas
A outra metade é desespero
É tempo de fazer do tempo o tempo que quiser
Do curto tempo, um longo tempo
O que nós fazemos, além de trilhar o tempo, atrás da falsa, ou verdadeira, felicidade?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O homem feliz e o infeliz.

Algumas pessoas nascem com sorte, outras com azar; algumas têm sucesso na vida, outras são fracassadas; algumas são felizes, outras apenas vivem, suportam. A sorte sorri para poucos, o azar, para muitos.

Fernando, um homem de sucesso, jornalista, casado, pais de três filhos; tem um ótimo salário, uma ótima casa, um belíssimo carro; quase sempre passa as férias na Europa, janta em restaurantes caros, passa os feriadões na sua casa de praia; a filha cursa medicina, um dos filhos cursa direito e o outro quer ser engenheiro. Fernando tem uma vida que muitos gostariam de ter, é respeitado, bem visto, é um homem feliz, um homem de sucesso.
Da janela do trabalho Fernando observava a bela paisagem – o sol, as montanhas, o bosque – quando o telefone tocou. Pensou ser a amante, esperava o telefonema dela, mas não era; para sua tristeza, era a esposa avisando o filho mais novo tinha sido pego mais uma vez com drogas na escola, e que desta vez seria expulso. A diretora tinha chamado a polícia e ele teria que ir à delegacia novamente, a segunda em duas semanas – na semana anterior foi tirar o filho do meio que se envolveu numa briga de gangue numa boate. Era complicado ter dois filhos homens problemáticos, a menina era a única que não dava dor de cabeça – isso na opinião da mulher do Fernando, pois ele achava o contrário, via na filha a maior vergonha da família. A filha mais velha era lésbica, morava com uma mulher, Fernando não matinha contato com ela, dizia que gostaria ter uma filha morta a ter uma aberração.
Fernando desceu rápido, no caminho para pegar o carro, esbarrou num lixeiro que trabalha no local. Respingou um pouco de sujeira no terno caríssimo de Fernando, que olhou com desdém para o lixeiro, falou um palavrão e continuou em direção ao carro. Quando ia saindo do local, xingou o trabalhador de pobre infeliz.
O pobre infeliz tinha um nome (apelido): Seu Zé
Seu Zé era um fracassado na vida. Trabalhava recolhendo lixo dos outros, morava numa favela, numa casa pequena que dividia com sua mulher e seus dois filhos. Pegava ônibus cheio e demorava uma hora para chegar no trabalho. Sua filha, a mais velha, trabalhava numa loja tirando xerox e estudava num pré-vestibular comunitário, ia tentar uma vaga no curso de pedagogia. O filho mais novo não sabia bem qual profissão seguir. Adora desenhar – o que fazia muito bem -, além de ser muito inteligente.
A casa de Seu Zé, apesar de simples, vivia em harmonia. Seu Zé quase não brigava com a esposa, se amavam como pouco acontece nos dias atuais; os filhos, apesar do trabalho que dá criar, respeitavam e seguiam os conselhos dos pais. Não se envolviam com drogas ou em brigas, apesar do ambiente propício. A diversão do Seu Zé era o futebol no final de semana, corria bem pra um homem de quarenta e oito anos; de vez em quando organizava um churrasco com os amigos, bebia um pouco, o suficiente pra não chegar bêbado em casa. Nas férias visita parentes no estado vizinho, nos feriados visitava parentes nas cidades vizinhas. Era sempre uma grande alegria rever os pais, irmãos, primos, sobrinhos, amigos, etc.
Pobre Zé! Um miserável, um nada na sociedade, só mais um entre tantos, um zero à esquerda! Nasceu no fracasso e morrerá no fracasso. Um homem infeliz!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Entre trovões e MPB

Teu fogo reflete a inocência do ser
Brincadeiras de quem está por viver
Teus risos indecisos, tão firmes que arredia
Recrutam esperança no fim do dia
A bobeira é simplesmente clichê
Como rebeldes com blusas do che
Caio nesta trama de dama
Te convido pra brincar na lama
Só não pare quando o trovão vir
Fugir de raios te fará curtir
Quando descansar à sombra de uma lona
Ao fundo uma música da Madonna
Pode ignorar no teu deitar
Mas fadas e duendes irão te contatar
No sonho lhe mostrarão um mundo belo
Com rios de leite e chocolates de martelo
Só você, criatura, que é única
Meu presente pra você: uma túnica
Pra proteger da chuva depois que banho tomar
Da janela faremos das nuvens um mar
E neste mar versos lançar
Fazer a magia por nós balançar
Você na batida do seu descobrir
Mundo maravilhoso irá se abrir

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Amor e Paixão ( tentativa frustrada de algo mais elaborado - tô aprendendo... rs)


   Há uma confusão na compreensão das pessoas sobre o que são o amor e a paixão. A maioria pensa que são a mesma coisa, mas são completamente diferentes. O amor é um sentimento nobre, verdadeiro, virtuoso, compreensivo, sábio, pacífico, etc. A paixão é um sentimento passageiro, cego, animal, muitas vezes doentio, violento, perigoso.
   Hoje a pessoa apaixonada diz que ama incondicionalmente, mata e morre pelo tal amor, daqui a algum tempo, mal se lembra da pessoa, tudo o que sentia perde a importância, muitas vezes dá lugar ao ódio. O amor é algo para a vida toda, é muito mais profundo, muito mais belo do que uma paixão passageira.
   Muitas vezes caímos no fascínio da mente, dos desejos, e acreditamos que amamos.
   Existe, também, a diferença entre o amor consciente e inconsciente, mas isso é assunto para outra hora.

   Era uma tarde fria do mês de julho, um tempo seco e frio, apropriado para quem gosta de exibir modelitos de inverno.
   Ângelo estava de férias em sua cidade natal - Curitiba. Já havia passado seis anos desde que tinha ido morar em Recife, e ainda estava acostumado com o frio, difícil era se adaptar ao calor do nordeste. A capacidade de adaptação vária de pessoa pra pessoa e também pra cada quesito: Língua, roupa, costumes, etc. Ângelo usava uma roupa leve, ao contrário de sua esposa, Maria, e seu filho, Gabriel, que usavam pesadas roupas de frio.
   Estavam comprando ingredientes pro almoço no mercadinho ao lado da casa dos pais de Ângelo. Saindo do mercadinho, Ângelo encontrou Tales, um velho amigo. Apresentou a esposa e o filho ao amigo. Conversaram um bom tempo, falaram sobre coisas do passado, do presente, planos do futuro; falaram da vida. Depois de meia-hora, cansada de esperar, a mãe de Ângelo, Leia, foi atrás das compras. No mesmo momento em que ela  interrompeu a conversa, uma moça alta e magra dobrou a esquina. Era Clara, ex-namorada de Ângelo. Clara olhou Ângelo nos olhos, observou a criança que era a cópia de Ângelo, olhou Ângelo mais uma vez e continuou andando, com um certo ódio no olhar.
   Só Tales e Ângelo perceberam a cena. Veio à memória de Ângelo toda a alegria e drama que viveu com Clara. Fantasmas do passado.

   Clara e Ângelo eram jovens; como todo jovem, tinham sonhos, muitos sonhos. Entre os sonhos estava o desejo de uma vida juntos; filhos, netos e tudo mais. Juras de amor eterno. No início tudo eram flores, tudo era maravilhoso, como se só aquilo bastasse para viver. Logo vieram as brigas, os ciúmes, as diferenças, as imperfeições, tudo o que não percebemos quando a paixão nos cega. Com o fim da paixão, se há uma dose de amor, amizade, cumplicidade, leva-se uma boa vida, senão, há muito sofrimento.
   A paixão de Ângelo, apesar de intensa, era curta, logo desencantou com Clara. Mas ainda levou o namoro por um bom tempo – talvez por apegou ou por medo da solidão. Já a paixão de Clara era mais intensa e longa. Totalmente ciumenta e possessiva, foi cada vez mais afastando Ângelo; quando este terminou o namoro, ela tentou se matar. Depois de idas e vindas, algumas outras tentativas de suicídio, Ângelo rompeu definitivamente com Clara, que inconformada, vendo em Ângelo sua única chance de felicidade, mergulhou no mundo das drogas.
   Ângelo encontrou uma outra pessoa, mudou de cidade, constituiu família, passou a ter novos ideais, nova visão de mundo; deixou Clara no passado. Clara continuou a pensar em Ângelo. Chorava, xingava, bebia, fala sempre do mesmo assunto com todo mundo.

   O encontrou reavivou as lembranças de Ângelo e reforçou o drama de Clara. Um misto de saudade, ódio e dor tomou conta de ambos. Logo Ângelo partiria e deixaria tudo aqui para trás. Clara, por outro lado, continuará vivendo o passado, remoendo velhos dramas.
  

Encomenda para JecaTatu

A inda que eu a fizesse sem inspiração
N ada valeria uma poesia sem razão?
A inda que pseudo-encantado pela JecaTatu
N ão haveria roda de dança de maracatu
D ar-te-ia, talvez, parcelas de gentileza
A ssim ficaria - sensível feliz - repousada em tua nobreza

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Auto-Conhecimento




Te advirto, seja tu quem fores!
Oh! Tu que desejas sondar os arcanos da natureza, que se não achas dentro de ti mesmo aquilo que buscas, tão pouco poderás achar fora.
Se tu ignoras as excelências de tua própria casa, como pretendes encontrar outras excelências?
Em ti está oculto o Tesouros dos tesouros.
Oh! Homem! Conhece a ti mesmo e conhecerás o universo e os Deuses…


Templo de Delfos, na Grécia

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ananda

Ananda, menina, mulher
Ananda dos seios fartos e sorriso fácil
Melões, ama-de-leite, riso de luz
Ananda palhaça, sem graça
Chata



Menina lerda, dirpersa, no mundo da lua
Lua dos sonhos, das bruxas

Ananda que nasce, que cresce, que vive
Ananda que vive sonhando na lua
Seus sonhos de bruxa mulher
Magnífica



Ananda bordada, aquela que marcelo cantou
Ananda de flor, de rosas, de verde, de mato e riacho
Aquela que tá por aí, que vi por aí



Ananda pequena, dos pequenos dramas, das pequenas alegrias
Do pequeno coração que abraça o mundo


Não é Márcia, nem Flávia ou Kátia



Ananda, tire o pijama e deite na cama
Não sonhe, não dorme, a estrela pode esperar
Me beije, me abrace, faça de tudo por mim


Ananda malandra, pilantra, ladrona
Vestido bordado, no boteco, na praia, no ar
Moça que olha
Um tom de vermelho que guarda pra si este doce sabor

Ananda que ama, que gera paixões e guarda pra si o doce sabor


Ananda de Santos e eu rezo por todos os santos
Ananda que é chata, palhaça
Ananda de luz



Ananda que engana e se engana
Você não é nada, não é de nada, te vejo e nada
Ananda que não percebe que é um espelho
Você é um reflexo, vejo um refexo de tua mana
A imagem daquela que ama, que engana, que encanta, que canta


Ananda sacana, não chora, só ri e despreza
Ananda tristonha, de sampa, do ar, do mato, da lua
Aquela que vive, que fala, de quem não sei nada

domingo, 3 de janeiro de 2010

Alice e o plano das possibilidades maravilhosas.

  Do ponto mais alto da cidade ela observava. Era noite, Alice olhava tudo com grande atenção, aquela grande e velha cidade; de noite parecia um enorme labirinto, sujo e escuro. Mas era tão fascinante, estar ali era algo único. Olhou os becos quase vazios, as pessoas dormindo em suas camas, algumas com a tv ligada, alguns crimes, coisas comuns.
  Alice olhou pro alto, fez uma oração, desejou e começou a subir. Flutuava como uma pena, só que subindo. A cidade foi ficando cada vez mais pequena, cada vez mais distante, até sumir. Agora tudo era azul, em cima, em baixo, dos lados. Subiu cada vez mais, até que chegou num ponto que parecia ser o limite da terra. Mais uma vez olhou pro alto, não viu estrelas e nem naves, só um escuro pronfundo e belo. Olhou o horizonte, viu o sol, na mesma altura, como nunca tinha visto, é bem diferente vê-lo numa praia, ali pareceia ter mais vida e mais sentido, parecia sorrir, como se quisesse encantar e contar segredos divinos.
  Aquilo tudo era belíssimo, Alice estava maravilhada com aquilo que estava vivendo, sabia que era privilegiada, a maior parte das pessoas não podia viver aquilo, mas ela estava ali, no céu, vivendo algo magnífico, com seu corpo leve, suave, cheio de boas energias.
   Começou a descer, em queda livre, um forte vento no rosto. Apesar de saber que nada de grave iria acontecer, sentiu um certo medo, mas estava gostando, era um mergulho num céu azul e limpo, nenhuma aventura radical se comparava àquilo. Foi descendo até voltar ao ponto mais alto da cidade.
   Foi uma das melhores experiência que Alice lembra ter tido nesta vida, não foi a primeira e nem a última, mas foi especial, sentiu algo especial, uma presença marcante no coração. A oração trouxe algo especial, como se um anjo estivesse ali, fazendo sentir forte a sua presença.
  Ainda não era o fim, naquele lugar, naqueles becos, Alice viveu outras experiências, não tão boas. Nem só de belezas essas experiências são feitas, mas isto é algo pra se contado numa outra oportunidade.