quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O assalto!


Ele ia andando na rua, acompanhado de um amigo. Era uma noite estranha, a visão um tanto turva, uma sensação estranha. Estavam apressados, andavam muito rápido. Conversavam sobre a violência das cidades, sobre a ganância e a necessidade doentia de dinheiro e sobre os assaltos.

Enquanto conversavam um homem se aproximou, mostrou a arma por debaixo da blusa e pediu o dinheiro. O amigo entregou a carteira. Ele pegou uma nota que tinha no bolso da frente e entregou; quando colocou a mão no bolso de trás para pegar o restante do dinheiro, o ladrão se assustou e atirou. A bala pegou no abdome. Enquanto ele caia o bandido correu. No chão, ele viu o amigo desesperado, gritando por ajuda. Viu o sangue saindo e colocou a mão pra tentar diminuir a hemorragia.

A visão foi ficando cada vez mais escura, e então, se viu em cima da cama, tinha acordado.

Ficou triste por causa daquela alma. Não percebia que estava morta, e continua a fazer as mesmas coisas que fazia em vida. As mesmas alegrias, prazeres, dramas, tristezas, etc. Continuava a roubar. E ficou triste por si próprio, por ser tão parecido com aquela alma, por não ter percebido que aquilo era um sonho, e porque irá repetir tudo o que faz em vida depois que morrer. Ficou triste por estar adormecido.

sábado, 19 de setembro de 2009

A lua e o sol

Ela estendeu a canga e os dois sentaram. Estavam felizes por estarem ali, curtindo férias da vida normal, observando a noite, o céu, os barulhos da natureza, a calma. Uns dias no mato, se não descansa o corpo, descansa a alma, e está agradecia por estar ali, como que sentindo estar mais próxima de algo que perderá.
   Já não se escutuva Raul no violão, nem risadas e conversas, estavam distante o bastante para ouvir apenas a natureza e um ao outro. O frio mostrava sua força, mas os corpos podiam contar apenas com as roupas; estavam interditados. O que outrora era imaginado, agora não se cumpria por conta dos caminhos do destino.
   Nenhuma palavra era necessária naquele momento, bastava estar ali, mas ele resolveu puxar assunto.

- Veja! A lua está linda, do jeito que gosto: cheia, grande, branca, baixa, como se fosse cair na terra.
- Realmente, é linda. Mas você prefere so sol, não é?
- Gosto dos dois.
- Mas prefere o sol?
- Sim. O sol é um ser vivo, a lua um corpo morto.
- Sério?! Isso cientificamente?
- Não, esotericamente. A lua teve vida um dia, assim como a terra hoje. No futuro a terra será convertida em uma lua. É a ordem natural das coisas. Tudo finda um dia, menos Deus e a nossa alma.

   Ela parou e ficou pensando por alguns instantes. Gostava de ouvi-lo falar sobre vários assuntos; alguns achava graça, outros deixavam-na surpreendida. Achava-o sábio, embora ele soubesse o que era: uma pessoa comum.

- Como sabe disso? - ela perguntou.
- Através de uma pessoa iluminda.
- E quem vivia na lua?
- Nós. Toda a nossa humanidade.
- Você lembra desta época?

Ele riu e respondeu.

- Não. Mal lembro o que comi semana passada.

E continuou num tom mais sério.

- No início, tudo o que aprendemos é por meio da fé cega; porque alguém nos contou ou vimos em algum livro. Sei que te disse uma vez que devemos investigar tudo o que queremos saber, pelo nosso próprio esforço, mas somos seres limitados. Por enquanto acredito no que os mestres dizem, e espero um dia desenvolver a capacidade de conhecer tudo por mim mesmo, sem intermediário. Toda a história da humanidade está na memória da natureza, qualquer um pode ver.
- Gosto das coisas que você diz.
- Não faço nada  além de repetir o que aprendi.

   Agora quem parou para pensar foi ele. Lamentou-se por perder tanto tempo aprendendo na teoria e praticando muito pouco. Pensou nas pouco experiências que teve e no imenso mistério maravilhoso que é o mundo.

- Somos seres de possibilidades - disse ele - só precisamos achar o caminho até Deus.
- Tudo isso me fascina e me apavora.
- É normal ter medo. Acho que tenho mais medo do que você.

  Os dois riram. Ficaram quietos por um longo tempo, apresciando o momento. O frio dizia que já era hora de dormir. Despediram-se, prometeram ter boas conversas no dia seguinte, e cada um foi pra sua barraca, aproveitar o pouco tempo de noite antes do sol brilhar novamente.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Homenagem ao Sol


Veja o brilhar do Sol
Tão indiferente àqueles que faz viver
Existe simplesmente
Simplicidade que transcende
Além do malabarismo intelectual
Ultrapassando qualquer teoria

Sinta o brilhar do Sol
Tão conectado àqueles que faz viver
Morra com seu excesso
Paralelo ao terror católico
Morra com sua escassez
Similar à alucinação nórdica
Não cometa a heresia de culpá-lo
Pelo inferno que se fez em você

Contemple o brilhar do Sol
Tão uno àqueles compreensivos na alma
Belo dia e feixes de luz transpondo folhas
Adentrando cômodos com auxílio do vento
Suave, aconchegante, como um leve ar
Tão diferente àqueles que sabem

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

EGO


Então, está certo, confirmado. Entendo a confusão que sou, porém, não compreendo. Tudo é uma revolução sangrenta, sombria; não há paz. Tudo o que sou é uma desordem micro-cósmica.

- Nossa, que sol lindo! Como gosto do calor.
- Mas uma chuva cairia bem, adoro tomar banho de chuva.
- Vou fazer um suco, está quente.
- Bebo água. Já começou o jogo e não quero perder nenhum lance.
- Está passando uma reportagem interessante no outro canal, posso ver o jogo no segundo tempo.
- Preciso visitar um amigo.
- Faço isso outra hora.
- Meu Deus! Tenho que estudar
- A preguiça me toma.
- Estudo mais tarde.
- Hoje não, amanhã.
- Amanhã tenho que ir...
- CALEM A BOCA!

Há dentro de cada um de nós vários personagens, que lutam entre si, cada um querendo impor a própria vontade. Somos uma marionete e nossas vidas um grande teatro, destino feito, cartas marcadas.
Desejos, vontades, medos, esperanças... São sonhos, sonhos de uma ilusão. Ilusão provocada por seres estranhos, inumanos, que tomaram nossa alma, nosso templo. Não percebemos, mas estão em nós.
Pode parecer loucura, e é! Tudo isso aqui é uma grande loucura, nós somos uma grande loucura. Nossa vida é uma corrida doida procurando satisfazer nossos desejos que no fim em nada resultam. Vem uma onda a destruir nossos castelos de areia, vem a morte e o fim das coisas temporárias.
Preocupações, conquistas, dores e tudo mais. Amamos tanto isso, sem motivo, sem lógica.

- O texto está uma porcaria.
- Não, está ficando bom.
- Poderia estar fazendo melhor.
- Por que não desisto de escrever?
- Nem pense nisso.
- Vou parar e ficar batendo papo no msn.
- Não, vou comer alguma coisa. Não tenho fome, mas quero comer.
- Está indecisão me mata.
- Vou ver um filme.
- Ótimo, um filme de terror.
- Não, quero rir, quero uma filme de comédia.
- Talvez, então...
- Silêncio!

Deus, como é difícil o verdadeiro silêncio, o santo calar, a calma interna!
Legiões estão a me torturar! Quantos pecados...

- Quero ouvir música.
- Que não seja Chico. Cansei de ouvir.
- Cordel! Há tempos não escuto
- Mas quero algo novo.
-...