Adormeci.
Um Sabiá
voou por entre as nevoas do meu sonho.
Voos
rasantes, acrobacias mágicas, balé hipnotizante.
Ele era tão
real que verdadeiramente me apaixonei.
Mas não sofri, pois não era real.
O Sabiá era
moderno.
Tinha o corpo todo tatuado.
Frases, poemas, filosofia.
Estranhamente, muita sabedoria escrita cabia no seu pequeno corpo verde.
Curioso que
sou, deveria aprender os segredos do universo ali contido.
Tolo que
sou, resumi-me a admirar o Sabiá.
Não pense
você ser fácil fulgir da fascinação.
Se acreditar
nisso, é porque não teve a graça de observá-lo.
Vi uma Flor.
Vermelha
como a paixão, o sangue, o fim de tarde.
Variações de tons e rosa.
Vaidosa.
Maquiada com o marrom da terra.
Terra
molhada de chuva, soprada pelo vento.
Este é o artista.
Assim como
me apaixonei pelo Sabiá, este se apaixonou pela Flor.
Desencontros
e encontros, combustíveis das Estórias e histórias.
Como uma
águia caçando a presa, o Sabiá mergulhou.
Foi rápido,
na velocidade da luz e do amor.
Desacelerou.
Parou como
um beija-flor.
Contemplou
como uma criança.
E tocou a Flor.
O céu e o
inferno pararam para ver um grande acontecimento.
Ali
acontecia a metamorfose.
Os homens
cegos continuaram seus afazeres.
Deuses e demônios pararam.
A Flor e o Sabiá.
Fundiram-se
num evento cósmico.
Explosões de
luzes e nasceu um Anjo.
Um belo,
formoso Anjo verde.
Tons marrons,
tons vermelho e rosa.
Não há
palavras para descrever a luz que dele brilhava.
Não há adjetivos para aquele sorriso.
Nem nas línguas dos homens, nem na língua sagrada dos Deuses.
Aquele
sorriso!
Aquele sorriso...
No peito, a
cruz de são Francisco.
Porque antes de ser Anjo, foi Flor e Sabiá.
No peito,
trazia a marca daquele que amou a natureza.
Daquele que viu Deus nela.
O Anjo era a prova viva.
Recitava,
aglutinava, fazia acontecer.
Reunia almas
sedentas de filosofia viva.
Acordei.
O sonho ficou na minha mente por horas, dias, semanas.
Adormeci.
Mas antes, fiz uma oração, um pedido.
Entre tantos sonhos confusos que alcançam minha alma,
Queria que
surgisse novamente com o Anjo.
E eis que uma claridade tão forte como o Sol surgiu.
Cegou meus olhos, abaixei a cabeça, reverenciei.
Era uma
Santa.
A Divina Mãe Natureza.
Pensei em
oferecer meu amor.
Ah, o meu amor.
Ele não faz parte deste conto.
Pois é apenas um sonho.
Pude ver com
mais atenção.
A Santa se transformou no Anjo.
Sempre foi o Anjo.
O mesmo sorriso.
Um sorriso que...
O mesmo olhar.
O mesmo ar de poesia.
Mas agora a pele era branca.
Como a luz de uma estrela forte.
Sua auréola ficava no pescoço.
Trazia um adereço marrom na cabeça.
Ia até a cintura.
Consegui entender.
Era um
adereço mágico.
Diminuía a luz do anjo para que os mortais pudessem enxergar.
Magnífico
Ser.
Agradeci.
Apenas sentei, observei.
Admirei cada segundo do sonho.
Quis sonhar
mais.
Ser mais intenso
...
Acordei.