terça-feira, 23 de maio de 2017

O Louco

"O Louco"
(Gibran Khalil Gibran)
Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando:
“Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um rapaz no cimo do telhado de uma casa gritou:
“É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez a minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua, e a minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais as minhas máscaras.
E, como num transe, gritei:
“Benditos, benditos os ladrões que roubaram as minhas máscaras!”
Assim tornei-me louco.
E encontrei tanta liberdade como segurança na minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Ursidaecídio


      A chuva veio forte, dançando no vento forte, proporcionando uma visão bela e forte. As tampas das caixas, as árvores, os carros. Todos voaram.  Acho até que vi o olho de um furacão. Como tudo passa, passou. Depois veio o Sol e a calmaria em um curto espaço de tempo. Admiramos e pensamos na morte, no ursidaecídio.
      É uma história antiga de personagens que não mais existem fisicamente, apenas na memória e na invenção. De fato, existem e estamos aqui contando. É uma história curta, a enrolação inicial é maior do que a própria estória, temo que não consigamos nem chegar ao final da folha. Este é um perigo real, mas real do que....
    Um Urso azul foi morto. Ao lado do corpo, uma rosa de pelúcia. Não se faz necessária a perícia, todos sabem quem matou, a forma e o motivo.  Morreu com uma carta não. Morreu. Acabou.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Corpo em Chamas



     Um dia, um entre tantos suicidas, poderia fazer arte do seu lastimável ato derradeiro. No tempo da exposição, exponha-se drástica-belamente ao vivo na internet. Escolha um belo cenário, de preferência, perto do mar, de noite.  Ponha fogo em seu corpo ao som de Corpo Em Chamas e rode loucamente como um dervish. Certifique-se de que as imagens serão tão belas quanto a canção. Quem sabe um milhão de acessos para um bilhão de chamas. Há quem veja beleza na morte. E é...

"Essa é a peça de teatro
mais bonita que eu já fiz"

https://www.youtube.com/watch?v=SSxp6KQ0b7Q

Quando eu botar fogo na roupa
Você vai se arrepender
De tudo o que me fez
Voce vai ver meu corpo em chamas
Pelas ruas... Ho, yeah

E o povo todo horrorizado
Iluminado pelo meu fulgor mortal
Eu vou dançar
Girando o corpo incendiado
Até cair no chão

yeh yehyeh yehyeh yeh

O grito agudo da sirene
Dos bombeiros
Alertando a multidão
Alguém falando que era um louco
No céu negro, a lua cheia a brilhar

Segure a mão de uma criança
A mão gelada
E a mãe gitando: "Não e não!"
E eu tão feliz
Girando colorido
Sob as chamas do luar

yeh yeh yeh yehyeh yeh

Quando eu gritar não se arrepie
Lembre apenas
Das contrárias que me fez
Saia correndo e mergulha
Assim vestida
Lá no mar... ho, yeah

Mas não vai ter mar que me salve
Da alegria deste salto
Em fogo e luz
Olhe pra mim
Essa é a peça de teatro
Mais bonita que eu já fiz

yeh yeh yeh yeh yeh yeh

Depois a noite há de descer gelada
Sobre os corações
De quem souber
E alguém dirá que foi
O primeiro a ver... oh, yeah

A presença selvagem
De um clarão vermelho
Rodopiando pelo chão
Esse sou eu
Dorido, dolorido
Colorido e sem razão
Ou não...
( Ave Sangria - Corpo em Chamas )

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Amar é hoje

- Hoje tem algo extraordinário em Caxias.
- Hum! O quê?
- Quem vier, verá.
- Hum!
- Se me amasse, você viria.
- Por te amar, vou te ver amanhã.
- Amanhã é uma ilusão igual ao ontem.
  Só hoje é real e verdadeiro.
- Hum!
- Se diz que me ama amanhã, ilude docemente eu e você.
  Se diz que me ama hoje, irá achar doce estar em pé em um trem apertado.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Senhora Angústia, Dona Ansiedade

A senhora angústia bateu a poeira dos ombros.
A dona ansiedade voltou como uma velha amiga.
Relembrando assuntos, antiga cantiga.
Ressurgindo em meio aos escombros.
Lembra? Aquela conhecida inquietude.
Sobreviveu ao tempo da juventude.
Rio e silencio
Batalho. Palhaço.
Paro! Medito em meu cansaço.
Coração no cio.
Equilíbrio perdido.
Decido! Não estou decido.
Um Senhor caminha na beira do mar.
Entorpece-se com as frutas da maresia
O que vê é sonho, real, fantasia?
O tolo Senhor jura amar.
Pausa... pondera... o que acabou de declarar?
Ele pensa. Equilíbrio, segura aquele que quer disparar.
Senhora angústia, dona ansiedade, estão só de passagem?
É paixão, é amor, é dor?
É um mergulho do golfinho, o voo do condor?
É miragem?
E o futuro?
Oculto, escuro.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Olhos vivos


Ela tem o figurino da Marisa, a intensidade da Bethânia, a sensualidade da Gal
Leve e intensa, distante de qualquer equilíbrio
Entoa e cativa com seu monólogo matinal
Olhos vivos, brilhantes, com brio
Naturalmente atriz; fala, gestos, expressões, naturalmente apaixonante
Olho os anos 70, nostalgia, faz o tempo parar
Rara criação de Deus e/ou do Diabo, mulher excitante
Ativamente vive, furacão, faz o mundo girar

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Vitorino

Nem branco, nem negro... vermelho Ora anjo, ora demônio... mulher A uma pintura gótica a assemelho Onde meu desejo consegue se acolher
Signo Leão, bondosa, energética Signo Leão, autoritária, iracunda Em ti a constelação exprime sua dialética Seus mistérios, seus segredos a minha mente inunda
Mística, sentimental Bela, sensual Nela repousa meu sonho profano Olhar tímido querendo ser desafiado Seio farto, corpo desacanhado Onde desejo repousar meu sono
Ao som do nickelback ela dança Quero guardar em mim doce lembrança De um dia teu beijo provar, desfrutar Se doce como mel Ou azedo como fel Faz meu instinto aflorar, arrebatar

sábado, 19 de outubro de 2013

A Flor e o Sabiá.

Adormeci.

Um Sabiá voou por entre as nevoas do meu sonho.
Voos rasantes, acrobacias mágicas, balé hipnotizante.
Ele era tão real que verdadeiramente me apaixonei.
Mas não sofri, pois não era real.
O Sabiá era moderno.
Tinha o corpo todo tatuado.
Frases, poemas, filosofia.
Estranhamente, muita sabedoria escrita cabia no seu pequeno corpo verde.
Curioso que sou, deveria aprender os segredos do universo ali contido.
Tolo que sou, resumi-me a admirar o Sabiá.
Não pense você ser fácil fulgir da fascinação.
Se acreditar nisso, é porque não teve a graça de observá-lo.

Vi uma Flor.
Vermelha como a paixão, o sangue, o fim de tarde.
Variações de tons e rosa.
Vaidosa.
Maquiada com o marrom da terra.
Terra molhada de chuva, soprada pelo vento.
Este é o artista.

Assim como me apaixonei pelo Sabiá, este se apaixonou pela Flor.
Desencontros e encontros, combustíveis das Estórias e histórias.
Como uma águia caçando a presa, o Sabiá mergulhou.
Foi rápido, na velocidade da luz e do amor.
Desacelerou.
Parou como um beija-flor.
Contemplou como uma criança.
E tocou a Flor.

O céu e o inferno pararam para ver um grande acontecimento.
Ali acontecia a metamorfose.
Os homens cegos continuaram seus afazeres.
Deuses e demônios pararam.
A Flor e o Sabiá.
Fundiram-se num evento cósmico.
Explosões de luzes e nasceu um Anjo.
Um belo, formoso Anjo verde.
Tons marrons, tons vermelho e rosa.
Não há palavras para descrever a luz que dele brilhava.
Não há adjetivos para aquele sorriso.
Nem nas línguas dos homens, nem na língua sagrada dos Deuses.
Aquele sorriso!
Aquele sorriso...
No peito, a cruz de são Francisco.
Porque antes de ser Anjo, foi Flor e Sabiá.
No peito, trazia a marca daquele que amou a natureza.
Daquele que viu Deus nela.
O Anjo era a prova viva.
Recitava, aglutinava, fazia acontecer.
Reunia almas sedentas de filosofia viva.

Acordei.
O sonho ficou na minha mente por horas, dias, semanas.

Adormeci.
Mas antes, fiz uma oração, um pedido.
Entre tantos sonhos confusos que alcançam minha alma,
Queria que surgisse novamente com o Anjo.
E eis que uma claridade tão forte como o Sol surgiu.
Cegou meus olhos, abaixei a cabeça, reverenciei.
Era uma Santa.
A Divina Mãe Natureza.
Pensei em oferecer meu amor.
Ah, o meu amor.
Ele não faz parte deste conto.
Pois é apenas um sonho.

Pude ver com mais atenção.
A Santa se transformou no Anjo.
Sempre foi o Anjo.
O mesmo sorriso.
Um sorriso que...
O mesmo olhar.
O mesmo ar de poesia.
Mas agora a pele era branca.
Como a luz de uma estrela forte.
Sua auréola ficava no pescoço.
Trazia um adereço marrom na cabeça.
Ia até a cintura.
Consegui entender.
Era um adereço mágico.
Diminuía a luz do anjo para que os mortais pudessem enxergar.
Magnífico Ser.

Agradeci.
Apenas sentei, observei.
Admirei cada segundo do sonho.

Quis sonhar mais.
Ser mais intenso
...

Acordei.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Carta Para Beth. O Sorriso.



Como prometido, aqui está o presente. Não é necessariamente de natal, mas um simples agrado.
Sem ter muito o que falar de uma pessoa que pouco conheço, que encontrei apenas duas vezes, em poucas palavras tentarei falar de algo que me chamou atenção: Seu sorriso.
Você tem um sorriso bonito, leve, contido, carismático. Um sorriso levemente puxado para direita, e isso é tão charmoso. Teu sorriso é simplesmente belo, encantador.
Alguém na ilusão da vida facilmente acharia que sua  vida sempre foi de flores, tão é a calma e que emana do seu sorriso. Talvez a calma seja um extra que veio junto do maior presente que você já recebeu: tua filha. Deve ser ela a escultora do magnífico sorriso; que grande artista você tem.
Mas pode ser que não seja nada disso. Seu sorriso pode não ser belo e nem encantador, pode nem ser levemente desviado para direita, pode o seu sorriso ser comum e eu estar apenas delirando. Pode ser.
Porém,  aqui, no meu mundo imperfeito, nas minhas fantasias, seu sorriso é mágico.
Agora esqueça está minha pequena viagem, apegue-a de tua memória, deixe-a gravada somente no subconsciente.
Vamos ao protocolo.
Desejo a você um feliz natal e um prósporo ano novo. Que o natal, época de ar triste e reflexivo, faça sua vida renovar. Que você seja uma pessoa melhor, que faça mais bem a outras pessoas e não perca nenhuma avaliação, rs.
Nas próximas cartas falarei sobre teus olhos, seu andar, seu rosto e voz, etc.
Darei corda aos meus devaneios
Beijos, com carinho, Rui.

                                                               Dezembro de 2012.

“nos interessa o que não foi impresso
                e continua sendo escrito à mão”

domingo, 9 de dezembro de 2012

Vazio Itinerário

Eu sonhei
Mais uma vez fraquejei
Quis chegar
Vi setas em tudo
Pobre sortudo
Fui me cegar

Pensei ver a luz
Engano que seduz
Foi só confusão
Em cada tocar
Só fiz focar
Minha ilusão

Então despertei
Bem que tentei
Mas o chão esvaiu
Desnorteado
A dor de calado
Não me redimiu

Procurei entender
Pude aprender
Minha eternidade
Um caminhar solitário
Vazio itinerário
Minha realidade

terça-feira, 6 de novembro de 2012

6 meses de Anne


Anne e sua pele bege
Facilmente se elege
Das minhas musas, a que me faz poeta
Anne de luz e beleza
Ás vezes um ar de duquesa
Ás vezes, simples borboleta

Anne e sua pele esticada
Sua barriga crescida
De mágica, são seis meses
Anne produzindo luz
Seus dias são azuis
Veja seus amigos felizes

Unhas coloridas
Pessoas doloridas
Por dobrarem o pescoço
Estes não mais doem
A barriga os atraem
É tanto alvoroço

Elego a foto
A que mais gosto
Onde a menina floresce
Na barriga, tanta luz contida
Vivendo o mistério da vida
Anne, sua vida amanhece

Flores são plantadas por tua menina
Te faz soprar uma vida leve, amena
Sua vida florida por Deus
Bela juventude a tua
O universo na tua vida atua
Desfrute os dias teu

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

sobre amor, dores e voos

Conheço manchas que não saem com água e sabão. Tenho arrependimentos permanentes, saudades insanáveis e um mundo inteiro de ausência impossível de ser mensurada. Sei de coração batendo descompassado por fome de olhar certa face. Sei de dor mais doída que corte no dedo. Sei de espinho que fura a alma e rasga mais que acúleo de flor...
Tenho conhecimento de causa de dor de gente. E dor de gente não é menos importante que crise mundial. De verdade? Crise pessoal assusta bem mais! Já tropecei nos meus medos, já cometi desatinos por um sorriso. Mentira! Cometi desatinos pel(o) sorriso, assim... Com artigo definido. Como era definida minha adoração: O moço, O sorriso, O canto. Porque no princípio era verbo e o verbo virou sujeito e o sujeito adjetivou tudo.
Conheço de significação. De olhar brilhando e musica. Como uma peça de teatro que nos põe a chorar, rir, emociona e tumultua. Também conheço de fim de peça, quando caem as cortinas e temos aquele turbilhão dentro de nós pra levar pra casa. É coisa que não cabe dentro da gente. Desse modelo é dor de amor partido. Digo partido. Não acabado.

Isso que brota dentro da gente e qualifica outro ser. Isso que nos faz querer bem acima até do nosso bem. Isso que simplifica o outro até que ele seja apenas aquele que cabe perfeitamente dentro da nossa alma, mesmo com os defeitos dele... Não morre não. Não morre é nunca!
Mas amor, amor é pássaro alimentado de céu. E quando não lhe é dado céu ele parte inversando o infinito. Voa por lembranças de céu azul, viaja pela saudade, pousa no que lhe foi tirado. E fica ali, nesse lugar apertado. Causando uma dor danada a um coração imenso. Com tanto espaço, ele teima de se enfiar no lugarzinho mais secreto, que é pra gente não saber por que dói.
“Por que dói se o amor morreu?” “Por que dói se já foi embora?” “Por que dói se acabou?”
Dói porque tá guardado.
E eu de pensamento simples, porém incompreendido. Penso nos meus arrependimentos: Um beijo que não foi dado. Um encontro que não aconteceu. Uma canção não cantada... Das coisas que fiz por amor, por mais loucas que tenham sido, não tenho arrependimento. Fiz pelo pássaro! Quis lhe dar o infinito pra que povoasse minha alma inteira. E povoou! Pena não ter recebido o mesmo céu.
Às vezes me apercebo de certa dor me apertando toda. Procuro no corpo razões de ser e não encontro. Sabe sapato apertado que causa calo? Pois é assim. Percebo minha alma aos calos. Quando finalmente me pergunto o porquê desse desassossego sofrido, ouço um bater de asas, vejo um voo modesto. O amor me mostrando que mesmo fingindo que ele não existe, está ali! Então quando eu o olho, volta pro seu canto guardado e partido.

Tenho manchas que não saem com água e sabão (Graças a Deus!), tenho saudades, fomes e dores. Mas arrepender não me arrependo não. E ainda que me arrependesse, digo sem titubear:

Quem dera todo meu arrependimento nessa vida fosse por amor e amar!...
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texto do blog reticências, da grande escritora Juliana Lira

 http://www.reticenciando.com/

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Mari Beija-Flor do Mar

M ari beija-flor do mar
A mena manhã descansando num pomar
R egozija-se com o canto do pássaro
I rradia alegria com um brilho raro

B rilham em suas costas três tesouros
E spelham Órion com seus raios duradouros
I nigualáveis estrelas repousam no corpo de oceano
J az ali mais um olhar profano
A inda que eu gritasse com muito vontade:
Neste verso livre quero minha atenção livre
F atalmente seria inutil, o que causa perplexidade
L isonjeado alguém seria se fosse um planta
O u uma árvore, uma flor que um pássaro encanta
R estando, então, somente escrever

D escrever um pássaro mar que ninguém pode prever
O nde a natureza agradece a dávida recebida

M ística menina, anjo verde de felicidade florida
A nima  terras, luas, estrelas e o sol
R iso cósmico que parece um farol

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Reticências

Menina sensível
Almejando o quase impossível
Posso ver tuas dores
Teus riscos são belos
Posso sentí-los
E cheirar suas cores

Em cada carta virtual
Um verso sobre o qual
Alguns espelhos podem ver
Outros nada veem
Não concordam ou não compreendem
Em teus versos não podem viver


Ah, os elogios que te oferecem
As pedras que te entristecem
São todas coisas vãs
Só o amor é tua dor
Te faz voar como um condor
Vivifica teus amanhãs

Continue a cantar
Não pare de encantar
Suas histórias são necessárias
Sua escrita dá vida
A uma história escondida
Histórias imaginárias

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Going to California ( Led Zeppelin)

Gastei meus dias com uma mulher indelicada,
Fumei meus bagulhos e bebi todo meu vinho.
Decidi fazer um novo começo,
Indo para a Califórnia com uma dor no meu coração.
Alguém me disse que há uma garota por lá
Com amor em seus olhos e flores em seu cabelo.

Arrisquei minhas chances em um grande avião a jato,
Nunca os deixe dizer que elas são todas iguais.
O mar estava vermelho e o céu estava cinza,
Eu me perguntava como o amanhã poderia seguir o hoje.
As montanhas e os canyons começaram a tremer e sacudir
Conforme as crianças do sol começavam a despertar

Parece que a ira dos Deuses
Tomou um soco no nariz e começou a sangrar
Acho que talvez eu esteja afundando
Me jogue uma corda, se eu alcançá-la a tempo
Eu te encontrarei lá em cima onde o caminho
Segue reto e pro alto

Encontrar uma rainha sem um rei
Dizem que ela toca violão e chora e canta la la la
Monto uma égua branca nas pegadas da alvorada
Tentando encontrar uma mulher que nunca, nunca, nunca nasceu
De pé em uma colina na minha montanha de sonhos
Dizendo a mim mesmo que isso não é tão difícil, difícil, difícil quanto parece

domingo, 22 de janeiro de 2012

Mergulho

   E enquanto ela cantava, ele olhou seus lábios finos, seu batom azul. Então tudo escureceu, nada via além do bailar dos lábios. O silêncio era quase total, não ouvia mais o falatório ou a música alta, só podia ouvir a melodia azul da sereia, princesa ou fada; esta parte ainda não estava clara. Logo a melodia foi ficando distante até o silêncio se tornar completo. Nada existia, o mundo se resumia ao seu olhar fixo em um par de lábios azuis dançantes. Permaneceu ali por muitos séculos, muitas eras, mais tempo do que a idade da terra, mais tempo do que muitos poderiam imaginar.
   Finalmente, o espetáculo cessou. Foi como se despertasse de um sonho ou como se entrasse em um leve sono - não me arrisco a definir onde está a realidade.
   Alegremente, fitou os pequenos olhos azuis, provocantes, enigmáticos. Tudo começou a escurecer novamente. Uma piscada providencial e ele voltou a si. Teve certeza de que era uma sereia, pois esta leva a grande fama de hipnotizadora.
   Precisava dizer algo antes de mergulhar novamente na imensidão do tempo. Segurou-a em um dos dedos e disse:

   - Sabe quando ficamos diante de um mar azul? Um mar puro, vivo, tranquilo, de um brilho raro, invejado por qualquer pedra preciosa. Acima, um céu limpo, sem nuvens, irradiante; um céu tão profundo que parece tocar o infinito. Lá longe o mar e o céu se tocam, uma beleza mágica. Para quem sabe encontrar é a entrada de uma cidade sagrada, celeste. Vejo-me enfrente a este mar. Anseio banhar-me, mergulhá-lo -  um breve aprendizado para o maior mergulho de todos: o na nossa própria alma. Porém, não sei se posso. A água pode estar fria para mim, talvez eu congele ao tocá-la. Podem ser águas sagradas, não sendo permitida a minha entrada, sendo vedada a profanação.

   A moça suspirou, soltou um leve riso e falou:

   - O Sol brilha forte, ele é teu protetor, teu guia, teu amigo; nunca deixará que um inverno rigoroso te alcance, jamais permitirá que congele; para isso, basta seguir seus ensinamentos, basta reverenciá-lo
. A água está agradável, acolhedora. Este mar não é sagrado, é profano como os homens; e mesmo se fosse sagrado, o Sol afastaria temporariamente teus pecados para que você pudesse repousar. O mar te espera, banhe-se. Talvez você ande perdido e o mar pode te ajudar a se encontrar; se o mar é tão tranquilo como descreve, levará um pouco de paz à tua alma, e assim, você ajudará a salvar um pouco o mar. Mergulhe!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Solo infértil.

A fonte secou
Ideias ainda borbulham
Mas nada brota
Nenhum texto, nenhum verso, nenhuma palavra
A arte escrita recusa sair da mente
É uma cidade fechada
Um presídio

Buscar a morte a cada dia
Buscar renascer a cada momento
Talvez a escrita morreu
Uma outra não nasceu
O vazio floresceu
Herança do caminho percorrido

Por força na tecla
Forçar a caneta já seca
Como espremer bagaço de laranja
Até quebrar o lápis
Surrar um solo infértil

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Máquina do tempo.


- O que você fez enquanto eu dormia?
- Fiquei pensando em como será a minha vida.
- O que você pensou?
- Fiquei pensando se minha vida vai ser boa ou ruim, e dormi.
- Sua vida vai ser boa.
- Queria que minha vida fosse como um filme de ação, cheia de explosões, ia ser muito legal.

Pensei em dizer que na vida real as pessoas morrem e é triste, mas não seria bom tocar no assunto “morte”.

- Isso é só nos filmes, a vida real não é assim.
- Felipe, queria ser inventor quando eu crescer, daqueles que inventam coisas. Eu ia inventar uma máquina, seria uma máquina do tempo, com ela a gente poderia voltar no tempo. Por exemplo, uma pessoa morreu, a gente pegava a máquina e ia voltando no tempo, até essa pessoa estar viva novamente, então a gente poderia ver essa pessoa novamente. Aí eu ia poder ver minha mãe de novo, ia ser muito legal.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Comentário sobre Anne

Anne e seu vestido azul
Tão belo, chama-se blue
Anne das unhas multicoloridas
Unha multicolor
Enfeita Anne tatuada pelo calor
O Sol prestigia suas várias vidas

Anne e sua pose de viagem
Olhar achado, longe de qualquer bobagem
Talvez seja maconha
Delicia-se na miragem
Oculta paisagem
Ela apenas sonha

Anne e seu brinco de pena
Valoriza sua pele morena
Beleza do norte
Não é beleza exótica
É simplicidade que toca
O pássaro perdoa a própria morte

Anne e seu olhar egípcio
Por ela um mortal avança no precipício
Tanta beleza deve ser castigo
Seu rosto pode ser maia
Figurante, pousada na praia
Engrandece um filme antigo

Sua posição é oeste
Sua posição é noroeste
Depende de quem vê
Com seu vestido azul
Todo mundo é sul
Maquiagem de TV

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Continuar

 A tempestade vem longe, negra, horripilamente; mas ainda não é hora de abandonar o barco. O mar treme, as ondas aumentam, raios cortam o céu; mas ainda não é hora de desespero. Espere a tempestade chegar. O motor começa a falhar, as luzes começam a piscar; mas ainda não é hora de chorar. A tripulação enlouquece, o casco racha; mas ainda não é hora de pular. Os passageiros se matam, o barco afunda; mas não pode se afogar. Procure um pedaço de madeira, espere, beba água dá chuva; será difícil, mas ainda não é hora de morrer. Nade até a ilha mais próxima. Descanse, ore, agradeça o ar, o sol e a chuva; nunca é hora de praguejar. Faça um sinal com pedras, um sinal de fumaça, um sinal telepático; ainda não é hora de se ocultar. Construa uma jangada, um barco, um dirigível; ou construa uma casa, uma varanda, habite a ilha. Talvez alguém tenha sobrevivido com você; erga seu país, sua civilização.