Conheço manchas que não saem com água e sabão. Tenho arrependimentos
permanentes, saudades insanáveis e um mundo inteiro de ausência
impossível de ser mensurada. Sei de coração batendo descompassado por
fome de olhar certa face. Sei de dor mais doída que corte no dedo. Sei
de espinho que fura a alma e rasga mais que acúleo de flor...
Tenho
conhecimento de causa de dor de gente. E dor de gente não é menos
importante que crise mundial. De verdade? Crise pessoal assusta bem
mais! Já tropecei nos meus medos, já cometi desatinos por um sorriso.
Mentira! Cometi desatinos pel(o) sorriso, assim... Com artigo definido.
Como era definida minha adoração: O moço, O sorriso, O canto. Porque no
princípio era verbo e o verbo virou sujeito e o sujeito adjetivou tudo.
Conheço de significação. De olhar brilhando e musica. Como uma peça de
teatro que nos põe a chorar, rir, emociona e tumultua. Também conheço de
fim de peça, quando caem as cortinas e temos aquele turbilhão dentro
de nós pra levar pra casa. É coisa que não cabe dentro da gente. Desse
modelo é dor de amor partido. Digo partido. Não acabado.
Isso
que brota dentro da gente e qualifica outro ser. Isso que nos faz querer
bem acima até do nosso bem. Isso que simplifica o outro até que ele
seja apenas aquele que cabe perfeitamente dentro da nossa alma, mesmo
com os defeitos dele... Não morre não. Não morre é nunca!
Mas amor,
amor é pássaro alimentado de céu. E quando não lhe é dado céu ele parte
inversando o infinito. Voa por lembranças de céu azul, viaja pela
saudade, pousa no que lhe foi tirado. E fica ali, nesse lugar apertado.
Causando uma dor danada a um coração imenso. Com tanto espaço, ele teima
de se enfiar no lugarzinho mais secreto, que é pra gente não saber por
que dói.
“Por que dói se o amor morreu?” “Por que dói se já foi embora?” “Por que dói se acabou?”
Dói porque tá guardado.
E eu de pensamento simples, porém incompreendido. Penso nos meus
arrependimentos: Um beijo que não foi dado. Um encontro que não
aconteceu. Uma canção não cantada... Das coisas que fiz por amor, por
mais loucas que tenham sido, não tenho arrependimento. Fiz pelo pássaro!
Quis lhe dar o infinito pra que povoasse minha alma inteira. E povoou!
Pena não ter recebido o mesmo céu.
Às vezes me apercebo de certa dor
me apertando toda. Procuro no corpo razões de ser e não encontro. Sabe
sapato apertado que causa calo? Pois é assim. Percebo minha alma aos
calos. Quando finalmente me pergunto o porquê desse desassossego
sofrido, ouço um bater de asas, vejo um voo modesto. O amor me
mostrando que mesmo fingindo que ele não existe, está ali! Então quando
eu o olho, volta pro seu canto guardado e partido.
Tenho
manchas que não saem com água e sabão (Graças a Deus!), tenho saudades,
fomes e dores. Mas arrepender não me arrependo não. E ainda que me
arrependesse, digo sem titubear:
Quem dera todo meu arrependimento nessa vida fosse por amor e amar!...
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texto do blog reticências, da grande escritora Juliana Lira
http://www.reticenciando.com/
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
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