E enquanto ela cantava, ele olhou seus lábios finos, seu batom azul. Então tudo escureceu, nada via além do bailar dos lábios. O silêncio era quase total, não ouvia mais o falatório ou a música alta, só podia ouvir a melodia azul da sereia, princesa ou fada; esta parte ainda não estava clara. Logo a melodia foi ficando distante até o silêncio se tornar completo. Nada existia, o mundo se resumia ao seu olhar fixo em um par de lábios azuis dançantes. Permaneceu ali por muitos séculos, muitas eras, mais tempo do que a idade da terra, mais tempo do que muitos poderiam imaginar.
Finalmente, o espetáculo cessou. Foi como se despertasse de um sonho ou como se entrasse em um leve sono - não me arrisco a definir onde está a realidade.
Alegremente, fitou os pequenos olhos azuis, provocantes, enigmáticos. Tudo começou a escurecer novamente. Uma piscada providencial e ele voltou a si. Teve certeza de que era uma sereia, pois esta leva a grande fama de hipnotizadora.
Precisava dizer algo antes de mergulhar novamente na imensidão do tempo. Segurou-a em um dos dedos e disse:
- Sabe quando ficamos diante de um mar azul? Um mar puro, vivo, tranquilo, de um brilho raro, invejado por qualquer pedra preciosa. Acima, um céu limpo, sem nuvens, irradiante; um céu tão profundo que parece tocar o infinito. Lá longe o mar e o céu se tocam, uma beleza mágica. Para quem sabe encontrar é a entrada de uma cidade sagrada, celeste. Vejo-me enfrente a este mar. Anseio banhar-me, mergulhá-lo - um breve aprendizado para o maior mergulho de todos: o na nossa própria alma. Porém, não sei se posso. A água pode estar fria para mim, talvez eu congele ao tocá-la. Podem ser águas sagradas, não sendo permitida a minha entrada, sendo vedada a profanação.
A moça suspirou, soltou um leve riso e falou:
- O Sol brilha forte, ele é teu protetor, teu guia, teu amigo; nunca deixará que um inverno rigoroso te alcance, jamais permitirá que congele; para isso, basta seguir seus ensinamentos, basta reverenciá-lo. A água está agradável, acolhedora. Este mar não é sagrado, é profano como os homens; e mesmo se fosse sagrado, o Sol afastaria temporariamente teus pecados para que você pudesse repousar. O mar te espera, banhe-se. Talvez você ande perdido e o mar pode te ajudar a se encontrar; se o mar é tão tranquilo como descreve, levará um pouco de paz à tua alma, e assim, você ajudará a salvar um pouco o mar. Mergulhe!
domingo, 22 de janeiro de 2012
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